José Fernando Joaquim é um rapaz pacato, típico pai de família. Gosta de curtir os dois filhos e a esposa. Sua maior diversão é ir ao shopping, fazer compras, comer, pegar um filme infantil no cinema. Para sua sorte, pertinho da sua casa, na Bela Vista, há inúmeras opções. A que ele mais gosta é o shopping Anália Franco, que ele diz que praticamente vai a pé. Se quiser variar, pode visitar o Aricanduva, o Plaza Sul e o Center Norte – todos a um pulinho de sua casa.
Jornalista e antenado, recentemente, ele ficou muito contente com a notícia de que um novo empreendimento comercial estava prestes a ser inaugurado na Grande São Paulo: um mega shopping na Rodovia Raposo Tavares. Ao ler a notícia, nosso querido José Fernando Joaquim exclamou para sua mulher: “Olha, amor, que ótima notícia. Do lado da nossa casa!”
A esposa Tincia, que conhece o marido de longa data, apenas assentiu com a cabeça: “Claro, amor. Pertinho...”, disse com um sorriso amarelo, já pensando na longa viagem aos sábados e domingos. Amar é, antes de tudo, saber o momento de agradar o companheiro, refletiu a resignada esposa. Meu marido gosta de fazer turismo urbano, o que eu posso fazer?, acrescentou mentalmente.
Mas nem tudo é um mar de rosas na vida de José Fernando Joaquim. Nos últimos tempos, ele vem tendo duas grandes preocupações: uma no trabalho e outra em casa. Detentor de um típico nome-triplo, ele se deparou, de uns meses para cá, com a inconveniente situação de não ter como ser chamado. Vive uma intensa crise de personalidade. Ocorre que a Redação já tinha um José e um Joaquim e, há cerca de dois meses, contrataram um tal de Fernando.
Agora, toda vez que alguém quer se comunicar com nosso José Fernando Joaquim, há uma dificuldade de saber com quem a pessoa está efetivamente falando. O chefe diz: “Oh, José.” Antes mesmo de ele responder, o outro José, do outro lado da sala, se antecipa e diz: “Pois não.” O chefe, então, esclarece: “não, eu to falando com o Fernando”. Eis que antes de ele poder atender ao chamado superior, o tal do cara-novo o atropela: “Pode falar.” Impaciente, o chefe apela: “Eu to falando com o Joaquim.” Já incomodado, nosso protagonista estufa o peito e faz até esboço de levantar para responder ao chefe, mas antes que ele o faça, é interrompido pelo outro Joaquim: “Opa, to aqui. O que precisa, chefinho querido?”
O chefe, homem muito ocupado, desiste da ordem que queria passar – na verdade, nem lembra. Enquanto tentava falar com o José Fernando Joaquim, foi chamado às pressas pelo governante da redação. Teve que sair correndo, deixando o enrosco dos nomes para trás.
A aflição em casa é ainda maior. Ocorre que, depois de uma militância árdua em assembléias de condomínio, ele conseguiu convencer os moradores do seu prédio – aquele, na região da grande Anália Franco – a não aderir à proposta de colocação de antena de operadora de celular no topo do edifício. “Isso aí traz doença e ainda danifica a estrutura do prédio”, bradava na reunião, para desespero da síndica, que via na antena uma possibilidade de aumentar a receita do condomínio. “Todo mundo fala que é um perigo! Sabe deus quantas doenças esses raios podem trazer para nós.”
Apesar da vitória, outro dia ele foi surpreendido com um comunicado colocado no elevador pela já desafeta síndica. Ela informava que, depois da resistência liderada pelo nosso Zé Joaquim, a operadora foi fazer a oferta para o prédio vizinho – que aceitou. Sem poder interferir, ele agora se vê em maus lençóis. O prédio vai ter que conviver com o efeito perigoso e incerto das ondas celulares, sem que isso ao menos represente diminuição nas contas no fim do mês. Vingativa, a síndica vai fazer questão de deixar isso bem claro aos moradores na próxima assembléia. É bom o nosso Zé começar a pensar em um bom lugar para se esconder – dos raios e dos vizinhos, doentes e doídos no bolso.
Já deixamos uma dica: que tal no shopping Anália Franco? Com certeza, nenhum vizinho pensará em procurar lá!
O turista da Bela Vista é mais um conto da série Os Paulistas
Olha, se ele quiser andar alguns quarteirões ele pode dar uma caminhada para o shopping de Guarulhos. É do lado da casa dele na Bela Vista...rs
ResponderExcluirMas, ele é o José, o Fernando ou o Joaquim? Não sei como chamá-lo....kakakaka
ResponderExcluirMuito legal essa história. Vocês estão sempre surpreendendo com essa imaginação fértil. Olha as coisas que vocês inventam...
ResponderExcluirComo vocês podem inventar uma situação que envolve antena de celular em prédio?......
ResponderExcluirFala sério, dá um GPS para esse moço.
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