Santelmo nasceu e foi criado em Barretos, uma região com tradição na lida com o gado. Passou boa parte da juventude observando a condescendência e a mansidão dos bois que pastavam naquelas paragens. Assim como a rês marcada, Santelmo carregou para a vida afetiva o que aprendeu observando aqueles espécimes de grandes chifres.
Sua infância foi como a de outros meninos traquinas da sua região. Corridas em volta do coreto da praça principal, coroinha de igreja, jogo de futebol no campinho da escola, trago em tocos de cigarro que pegava do chão e fumava escondido e, na parte sexual, iniciação com cabritas em beiradas de barranco. Já nessa época ficava intrigado com animais de chifre como o bode, que apenas observava suas peripécias.
Esforçado e com uma ideia fixa na mente, estudou com afinco para saber mais sobre os bovinos em particular. Passou no vestibular, e deixou Barretos para cursar zootecnia em outra cidade do interior paulista, em uma das melhores universidades públicas do Brasil. Foi lá, entre aventuras picantes, apetite voraz por situações sexuais bizarras e decepções amorosas que ele travou o primeiro encontro com uma lei da vida que era tão certa quanto as divinas Tábuas de Lei: quem não é, já foi ou ainda será chifrudo. Ferido, aprendeu a lição e aceitou resignadamente o “troféu” que lhe impuseram nas têmporas. Não seria uma coisa colocada na sua cabeça por outras (quiçá outros) que impediria seu projeto de vida. Com o ímpeto da juventude, tocou a vida adiante e seu projeto pessoal de vir morar e trabalhar em São Paulo.
Dali em diante tem início a metamorfose definitiva de Santelmo. Ainda nos tempos acadêmicos, conheceu a Mitologia Grega. Santelmo gostava particularmente da lenda do Minotauro. Admirava aquela criatura com a cabeça de touro sobre o corpo de um homem e identificou-se imediatamente com a história do Rei Minos de Creta. Entusiasmado com a épica história, pensou: “talvez seja Minos um dos primeiros cornos da história da humanidade”.
Apenas para situar o leitor, vale aqui parênteses: reza a lenda que, como forma de punir Minos por um desrespeito a Zeus, a deusa Afrodite fez com que Pasífae, mulher de Minos, se apaixonasse perdidamente por um touro vindo do mar, o Touro Cretense. Pasífae pediu então a Dédalo, notável inventor, que lhe construísse uma vaca de madeira para que ela pudesse se esconder no interior e então copular com o touro. Deste cruzamento nasceu o Minotauro. Fruto de união entre Homem e animal irracional, o Minotauro não tinha qualquer fonte natural de alimento e precisava devorar homens para sobreviver. Isto fez com que Santelmo também entendesse seus rompantes de erotismo com quem se dispusesse a saciá-lo naqueles loucos tempos da república Barretesão.
Em São Paulo, já reconhecido como excelente profissional em um frigorífico após defender com honras uma tese de mestrado, Santelmo não tardou a arranjar uma namorada. Apesar de estranhar algumas situações afetivas, achava que a vida em Sampa era assim mesmo. Era a terra da modernidade. Ficou interrogado de início, quando convidou a pretendida para férias a dois e ela prontamente recusou. Disse ela que já havia planejado um mochilão de 15 dias com Claudionor “tripé”, um amigão dos tempos da faculdade. Com a personalidade mansa cada vez mais estabelecida, Santelmo se calou. Preferiu o silêncio a entrar em rota de colisão com a amada. Só ficou preocupado quando ela retornou da viagem e disse que estava muito cansada e que amor entre ambos somente depois de 30 dias. Dizia ele que era cansaço mesmo, porque “ela estava superfeliz com a viagem que tinha feito”, justificava Santelmo para o amigo Iziel, um sujeito da Vila Madalena e grande amigo seu.
Numa dessas conversas com Iziel no Pacaembu, em meio a um jogo do Timão, Santelmo disse que realmente os tempos eram outros no Brasil. Época de Censo no país, ele admirava que o recenseador da sua região fosse tão comprometido com o trabalho. O servidor já havia visitado a casa de Santelmo oito vezes, sempre na sua ausência. Além disso, queria saber se Iziel também havia recebido um kit do Censo: toalha e um par de chinelos Rider, tudo com logotipo do IBGE. Feliz da vida, ao chegar em casa Santelmo sempre usava o material. Algumas vezes, Santelmo chegava mais cedo e estranhava o banheiro cheio de vapor, a toalha umedecida e o chinelo rider 47 ensopado na beira da cama. Mas nada disso importava para ele. Santelmo acreditava que chifre era invenção, coisa colocada na cabeça pelos outros. Estava coberto de razão.
Sua infância foi como a de outros meninos traquinas da sua região. Corridas em volta do coreto da praça principal, coroinha de igreja, jogo de futebol no campinho da escola, trago em tocos de cigarro que pegava do chão e fumava escondido e, na parte sexual, iniciação com cabritas em beiradas de barranco. Já nessa época ficava intrigado com animais de chifre como o bode, que apenas observava suas peripécias.
Esforçado e com uma ideia fixa na mente, estudou com afinco para saber mais sobre os bovinos em particular. Passou no vestibular, e deixou Barretos para cursar zootecnia em outra cidade do interior paulista, em uma das melhores universidades públicas do Brasil. Foi lá, entre aventuras picantes, apetite voraz por situações sexuais bizarras e decepções amorosas que ele travou o primeiro encontro com uma lei da vida que era tão certa quanto as divinas Tábuas de Lei: quem não é, já foi ou ainda será chifrudo. Ferido, aprendeu a lição e aceitou resignadamente o “troféu” que lhe impuseram nas têmporas. Não seria uma coisa colocada na sua cabeça por outras (quiçá outros) que impediria seu projeto de vida. Com o ímpeto da juventude, tocou a vida adiante e seu projeto pessoal de vir morar e trabalhar em São Paulo.
Dali em diante tem início a metamorfose definitiva de Santelmo. Ainda nos tempos acadêmicos, conheceu a Mitologia Grega. Santelmo gostava particularmente da lenda do Minotauro. Admirava aquela criatura com a cabeça de touro sobre o corpo de um homem e identificou-se imediatamente com a história do Rei Minos de Creta. Entusiasmado com a épica história, pensou: “talvez seja Minos um dos primeiros cornos da história da humanidade”.
Apenas para situar o leitor, vale aqui parênteses: reza a lenda que, como forma de punir Minos por um desrespeito a Zeus, a deusa Afrodite fez com que Pasífae, mulher de Minos, se apaixonasse perdidamente por um touro vindo do mar, o Touro Cretense. Pasífae pediu então a Dédalo, notável inventor, que lhe construísse uma vaca de madeira para que ela pudesse se esconder no interior e então copular com o touro. Deste cruzamento nasceu o Minotauro. Fruto de união entre Homem e animal irracional, o Minotauro não tinha qualquer fonte natural de alimento e precisava devorar homens para sobreviver. Isto fez com que Santelmo também entendesse seus rompantes de erotismo com quem se dispusesse a saciá-lo naqueles loucos tempos da república Barretesão.
Em São Paulo, já reconhecido como excelente profissional em um frigorífico após defender com honras uma tese de mestrado, Santelmo não tardou a arranjar uma namorada. Apesar de estranhar algumas situações afetivas, achava que a vida em Sampa era assim mesmo. Era a terra da modernidade. Ficou interrogado de início, quando convidou a pretendida para férias a dois e ela prontamente recusou. Disse ela que já havia planejado um mochilão de 15 dias com Claudionor “tripé”, um amigão dos tempos da faculdade. Com a personalidade mansa cada vez mais estabelecida, Santelmo se calou. Preferiu o silêncio a entrar em rota de colisão com a amada. Só ficou preocupado quando ela retornou da viagem e disse que estava muito cansada e que amor entre ambos somente depois de 30 dias. Dizia ele que era cansaço mesmo, porque “ela estava superfeliz com a viagem que tinha feito”, justificava Santelmo para o amigo Iziel, um sujeito da Vila Madalena e grande amigo seu.
Numa dessas conversas com Iziel no Pacaembu, em meio a um jogo do Timão, Santelmo disse que realmente os tempos eram outros no Brasil. Época de Censo no país, ele admirava que o recenseador da sua região fosse tão comprometido com o trabalho. O servidor já havia visitado a casa de Santelmo oito vezes, sempre na sua ausência. Além disso, queria saber se Iziel também havia recebido um kit do Censo: toalha e um par de chinelos Rider, tudo com logotipo do IBGE. Feliz da vida, ao chegar em casa Santelmo sempre usava o material. Algumas vezes, Santelmo chegava mais cedo e estranhava o banheiro cheio de vapor, a toalha umedecida e o chinelo rider 47 ensopado na beira da cama. Mas nada disso importava para ele. Santelmo acreditava que chifre era invenção, coisa colocada na cabeça pelos outros. Estava coberto de razão.
Esse foi mais um conto da série “Os Paulistas”. Não percam na próxima quarta-feira "O Nerd da........."(o bairro será revelado aos poucos)....
Não tenho dúvidas que esse foi o melhor da série até agora
ResponderExcluirEsse Santelmo realmente é um exemplo da mansidão dos bois. Muito bom o texto. Ainda mais do kit censo...kakakakakaka
ResponderExcluirNossa, como é bonita a história de cornice desse Santelmo. Queria conhecer esse rapaz e aprender a ser manso como ele.
ResponderExcluirEita Santelmo. De tanto pegar touro a unha em Barretos, o menino traquinas tomou gosto por chifre.
ResponderExcluirSegura homem do censo que o touro de Barretos tá chegando
Parabéns ao autor do blog. As histórias estão cada vez melhores. Adorei a história do barretense.
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