sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

As irmãs do Paraíso

Laura era a típica mineira, da região do Triângulo, quieta, demorava para dar intimidade e não dispensava um pão de queijo e coca zero. Letícia era uma garota mais interiorana, da região da Grande Pinhalzinho, lutando contra a timidez, com o sonho de se aventurar na capital.

Separadas no nascimento, Laura e Letícia se reencontraram numas dessas ironias do destino. Ambas foram contratadas por uma grande empresa para completar o projeto de uma equipe de comunicação. Ao se olharem pela primeira vez, um sentimento fraternal tomou conta.

Com o passar dos meses a amizade foi ganhando força e logo descobriram que tinham muito em comum e passaram a se tratar como irmãs confidentes. Aquelas que não escondem nada uma da outra. Mal sabiam o que o futuro reservava.

Com tanta cumplicidade, não demorou para decidirem morar juntas na capital. O bairro escolhido foi o Paraíso, região de fácil acesso e bem perto do agito da noite paulistana.

Letícia já estava cansada da tribo que a trouxe para São Paulo. Estava desiludida com os surfistas, que só davam atenção entre um tubo e outro, mas sem deixar sua prancha fixa na areia. Estava na hora de procurar uma nova turma.

Laura também buscava uma mudança de perfil. Ela não agüentava mais os coroas com quem se envolvia e achava que era hora de dar chances aos jovens de sua idade. Estava cansada de acompanhar os namorados no cardiologista e no proctologista e não achava mais graça alguma em vê-los usando All Star. 

Letícia e Laura logo se esbaldaram na noite paulistana. O fim de semana era pouco para as programações que elas combinavam durante a semana. Iam para bares da Vila Madalena, boates na Vila Olímpia, feiras na Benedito Calixto, raves no interior de São Paulo e luais no litoral norte. Conheceram muitos homens. Se desiludiram com alguns caras, mas também pisaram em outros. O importante era a aventura da cidade, o grande amor um dia ainda teria que aparecer.

Nessas aventuras pela cidade grande, Laura descobriu um hobby: comprar eletrônicos e outras muambas na Santa Efigênia e na 25 de Março, no centro de São Paulo. Gosto que ela descobriu em umas dessas conversas de almoço com colegas de repartição. Já Letícia, gostava mais da José Paulino para comprar roupas para o seu já amarrotado guarda-roupa.

Sábado de manhã era sempre a mesma história, estavam numa ressaca brava da noite de festa anterior, mas não desanimavam e acordavam para fazer compras no centro de São Paulo.

E foi em um sábado de dezembro que o destino quis dar mais um sinal. As duas voltando para casa, carregadas de muambas, foram paradas em uma blitz na saída da 25 de março. Foram confundidas com camelôs paraguaias e levadas para uma delegacia na região central.

Abaladas, tiveram suas fichas levantadas e o grande segredo foi revelado: elas faziam parte de uma triste realidade brasileira. Foram trocadas na maternidade. Laura foi criada pela família de Letícia e vice-versa. Um momento de comoção tomou conta de todas as pessoas que estavam na delegacia e, após um longo suspiro, elas se abraçaram fortemente e choraram.

Com a alegria e emoção da identidade revelada, as irmãs do Paraíso não pensaram duas vezes. Foram comemorar o acontecido no mercadão, com muito pastel de bacalhau e caldo de cana. Dizem por ai que naquela noite a balada foi pequena para elas.

Esse foi mais um conto da série “Os Paulistas”. Não percam na próxima sexta-feira "O Minotauro da Água Branca".

Um comentário:

  1. ERRAMOS:

    Mário tem 27 anos e mora no Paraíso!!!!!!!!!

    Joyce, quase-30, faz uma correção: o nome do bombeiro é trator, não Paulão.

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