Luma Dália era uma caixeira-viajante que gostava de frequentar restaurantes badalados e finos, em especial o über italiano “Temmês”. Lá, amiga dos gerentes da casa, ela se sentia em casa. E sempre gostava de pedir direto um secondo piatto, acompanhado de um monstruoso copo de cerveja de 1,5 litro.
Para espanto da clientela local, formada por integrantes da high society paulistana, após o segundo ou terceiro copo, ela tinha o hábito de gritar: “garçom, pre-pa-ra outro”. Mas ficava por aí. Sossegava em seguida, pedia, com gentileza, para que desligassem o ar-condicionado e pagava a conta com seu cartão bancário universitário – que ela ainda usava cinco anos depois de formada.
Luma morava no bairro paulistano da Saúde, mas por conta de seu ofício, cada vez menos ia pra lá. Certa manhã, enquanto saía atrasada para a próxima viagem foi abordada pelo porteiro Kerrysonn.
“Dona Luma, bom dia. Posso falar uma coisa pra senhora?” Luma, meio distraída, balbuciou um “diga”, enquanto procurava a chave do carro na bolsa. “O nome deste bairro foi dado em homenagem à senhora?” Luma não entendeu direito: “como, seu Kerryson?”. “É porque eu acho que a senhora tem saúde pra dar e vender”. Luma, impávida por um breve instante, respirou fundo, meneou a cabeça nervosamente, e disse, com o dedo em riste “escuta aqui rapazinho. Saúde é o que você mais vai sentir falta se fizer de novo um comentário desses”.
Saiu e pôs o pé na estrada. Para uma caixeira-viajante, Luma tinha um problema sério: enjoava toda vez que viajava. Bastou andar alguns quilômetros e já teve que se livrar de todo o gnocchi com trufas negras que comera no dia anterior. “Droga”, disse ela. Passou o dia vendendo seus produtos na praça do município de Buri, com um microfone que ela carregava a tira colo.
Na volta, sentiu-se muito mal uma vez mais, jogando fora agora os fantásticos pastéis de Buri. Chegou a seu prédio cambaleando de fraqueza. Antes de cumprimentar o porteiro Kerryson, sentiu sua visão embaçando e desmaiou.
Quando Luma acordou novamente tudo parecia incerto. Acordou numa rede, em meio a coqueiros. Estava numa praia. A sua roupa era um antigo vestido de noiva. E, surpresa: estava com uma aliança. Kerryson caminhava em sua direção com uma água de coco e uma tapióca.
“Mas o que que é isso, Kerryson?” “Olha, a senhora desmaiou. Eu achei que foi uma jogada sua, uma deixa para eu te laçar, já que a senhora e saúde tão sempre juntas. Então aproveitei que a senhora estava se fingindo de desarcodada, levei pra igreja e já providenciei nossa lua-de-mel. Agora estamos aqui. Já quer fazer nossos primeiros meninos: o Kerryson Jr. e a Lumason?”
Luma ficou boquiaberta. Pensou em pedir socorro, em chamar a polícia. Mas vendo a sinceridade de Kerryson, aquele mar azul, disse baixinho para o rapaz: “Pre-pa-ra que agora é a hora”!
sexta-feira, 6 de dezembro de 2013
quinta-feira, 5 de abril de 2012
A Missivista de Perdizes
Mara Isabelita, assim como a maioria das meninas da sua idade, tinha um sonho: ser famosa. E, em busca de um lugar ao sol, a menina tentou de tudo: fez testes para tornar-se um mamífero da Parmalat, participou do concurso para ser uma das “Chiquititas”, foi bateristas de uma banda pop e até vídeos de inscrição no Big Brother ela gravou. Tudo em vão. A cada nova tentativa o estrelato parecia mais distante.
Se ainda era desconhecida do grande público, Isabelita era a tal no condomínio em que morava. A tal que não sabia dirigir. Sua pouca habilidade ao volante já tinha deixado marcas profundas na garagem do edifício e nos carros dos vizinhos, que não simpatizavam com ela. Mas nada abalava o firme propósito daquela menina e a certeza do sucesso permanecia.
Com o passar dos anos e o anonimato crescendo, Isabelita decidiu que era hora de tentar algo mais ousado e matriculou-se a faculdade de jornalismo. A despeito do sucesso nessa carreira ser pouco provável, a menina não se intimidou e batalhou ao longo de todo curso para tornar-se a melhor aluna da sala. O sonho era trabalhar na TV, mas, ao final dos quatro anos de faculdade, sua ligação mais próxima com o universo televisivo era uma assinatura da revista “Minha Novela”.
Diante do cenário pouco favorável, mas ainda com a certeza de que chegaria ao estrelato, Isabelita aceitou o convite de seu amigo Santelmo – aquele mesmo do conto “O Minotauro da Água Branca” -, para trabalhar na assessoria de imprensa de uma famosa marca de eletrodomésticos. Se não era o melhor trabalho do mundo, ao menos, a colocaria em contato com jornalistas que poderiam descobrir o seu real talento.
Isabelita encarou o desafio com determinação, mas a animação com o novo emprego foi rapidamente ceifada por Santelmo. O amigo, que nesse caso foi o amigo da onça, a escalou para responder as cartas e e-mails com reclamações de clientes. Aquilo era o fim para ela. Sem contato com a imprensa e diante das mais descabidas reclamações, a menina foi deixando a tristeza e a raiva tomarem conta do seu coração.
Até que numa bela tarde de outono, enquanto as folhas caiam lentamente sobre o gramado, Isabelita leu a réplica de uma carta de leitor explodiu num ataque de ódio e fúria. Os olhos, sempre dóceis e angelicais, transformaram-se em duas bolas de fogo que exalavam raiva de maneira visceral. Mordaz como nunca se viu, Isabelita passou a redigir uma resposta dura à missivista queixosa. Suas mãos, enfurecidas, agrediam o teclado com tamanha violência que era possível ouvir as batidas do outro lado da sala. Em poucos minutos, ela concluiu a resposta e, sem pestanejar ou consultar Santelmo, enviou a mesma ao jornal.
Aquele momento catártico, porém, deu lugar a um sentimento de culpa, afinal de contas àquela resposta, repleta de adjetivos pouco simpáticos, poderia lhe causar sérios problemas no trabalho. Num misto de alegria e angústia, Isabelita seguiu para casa, onde permaneceu insone até ouvir o barulho do entregador de jornal. Como um raio, a jovem correu até a porta e abriu o jornal na seção de cartas do leitor. Antes de ler, ainda de olhos fechados, Isabelita pensou: “Não, eles não publicariam uma resposta como aquela”. A doce ilusão da menina não durou mais que um segundo, ao centrar os olhos no jornal, de pronto, encontrou a carta publicada no alto da página com um destaque considerável.
Antes que pudesse se preocupar com o futuro, uma sensação de prazer tomou conta de Isabelita, afinal de contas era a primeira vez que via o seu nome publicado no jornal de maior circulação do país. A menina teve ali a certeza de que o anonimato era coisa do passado e que, finalmente, alcançara o estrelato.
Sem conter a alegria, Isabelita seguiu para o trabalho e, antes mesmo que Santelmo pudesse falar alguma coisa, pediu demissão também sem reprimir suas emoções. Ainda desfrutando das benesses do estrelato, Isabelita voltou para casa, onde começou uma nova vida.
Desde então, ela passa os dias respondendo cartas de leitores dos principais jornais do país. Quem ousa desafiar Isabelita, seja uma professorinha do interior ou um político consagrado, torna-se vítima do seu texto ácido, cortante e nada elogioso. Hoje, já uma celebridade do painel do leitor, a menina repete para quem quiser ouvir: ”Nunca contrarie Isabelita, a missivista de Perdizes”
quinta-feira, 29 de março de 2012
O CORNO INTELIGENTE DE PINHEIROS
Geílson é um cara sofisticado. Cheio de modinhas. Prefere dever na praça, mas estar com o tênis ou a calça da moda. Sempre foi assim. Em sua casa em Pinheiros, gosta de mostrar aos amigos sua coleção de discos, de relógios e o revólver importado de 10 mil dólares que havia ganhado de um tio.
Em uma certa tarde, quando chegou de surpresa do trabalho, surpreendeu a esposa Jenifer em sua cama com outro. Tirou o revólver da cintura, tomando cuidado para não ser percebido pelos dois, armou o gatilho e já ia se preparando para meter bala neles quando parou para pensar.
Foi se lembrando de como a sua vida de casado havia melhorado nos últimos tempos. A esposa já não pedia dinheiro pra comprar carne, aliás, nem para comprar vestidos, jóias e sapatos, apesar de todos os dias aparecer com um vestido novo, uma jóia nova ou uma sandalinha da moda. Os meninos mudaram da escola pública no Belenzinho para um colégio super chique no bairro.
Sem contar que a mulher trocou de carro, apesar de ele estar há quatro anos sem aumento e ter cortado a mesada dela. O supermercado, então, nem se fala, eles nunca tiveram tanta fartura quanto nos últimos meses. E as contas de luz, água, telefone, internet, celular e cartão de crédito, fazia tempo que ele nem ouvia falar delas.
O caso é que a Jenifer era um aviãozão, toda gostosa, mesmo com dois filhos o tempo não passava pra ela, era coisa de louco. Geílson guardou a arma na cintura, com muito cuidado para não ser percebido, e foi saindo devagar, para não atrapalhar os dois.
Parou na porta da sala, refletiu um pouco e disse pra si mesmo:
- O cara paga o aluguel, o supermercado, a escola das crianças, as contas da casa, o carro, o shopping, todas as despesas e eu ainda vou pra cama com ela todos os dias.
- O cara paga o aluguel, o supermercado, a escola das crianças, as contas da casa, o carro, o shopping, todas as despesas e eu ainda vou pra cama com ela todos os dias.
E, fechando a porta atrás de si, concluiu sorrindo:
'Puta que o pariu... *O CORNO É ELE!!!!
Geílson saiu de fininho e foi para o quarto ao lado apreciar sua nova peça da coleção de correntes de ouro, que acabara de comprar com o dinheiro economizado dos gastos diários.
Este foi mais um conto do blog “os Paulistas”. Na semana que vem não perca “A Estrela das Perdizes”.
terça-feira, 27 de março de 2012
Conheça na quinta-feira (29) a história do “CORNO INTELIGENTE DE PINHEIROS”
Geílson é um cara sofisticado. Cheio de modinhas. Prefere dever na praça, mas estar com o tênis ou a calça da moda. Sempre foi assim. Em sua casa em Pinheiros, gosta de mostrar aos amigos sua coleção de discos, de relógios e o revólver importado de 10 mil dólares que havia ganhado de um tio.
Em uma certa tarde, quando chegou de surpresa do trabalho.......
quinta-feira, 22 de março de 2012
O Seminarista de São Roque
Tadeu estava cursando o segundo semestre de pedagogia na PUC de São Paulo. Não era bem a profissão que ele almejava, mas após deixar o seminário em São Roque, onde cursara o ensino médio, estava meio perdido com relação a que carreira seguir e optara pelo curso de pedagogia em admiração ao padre Estevão, professor de português e literatura no seminário do Marmeleiro.
Foi por intervenção direta de padre Estevão que Tadeu conseguira a vaga na faculdade, com bolsa de estudo integral, pois não tinha como arcar com os custos, já que sua mãe se negara resolutamente a ajudá-lo na nova empreitada.
Tadeu, na verdade, nunca tivera vocação para padre e foi parar no seminário graças a uma promessa feita pela mãe quando ele, ainda em tenra idade, pegou uma doença grave e desconhecida que o deixou por vários dias à beira da morte.
A mãe, desesperada e sem saber mais o que fazer, prometeu que se o menino sobrevivesse seria padre e serviria a Deus por toda a sua vida. Mas o moleque nunca tivera vocação nem o mínimo interesse em cumprir os sacrifícios exigidos pela vida sacerdotal. Na escola primária vivia atazanando as meninas e levantando suas saias, em casa foi surpreendido várias vezes espiando a empregada, uma bonita mulata, tomando banho ou a se enxugar.
Dona Vicentina, a mãe de Tadeu, colocou-o no seminário assim que ele atingiu a idade adequada e achou que a partir daquele momento tomaria jeito, mas o moleque tinha alma aventureira e vivia fugindo da reclusão do seminário para ir ao puteiro de Dona Piera, ali perto. As putas achavam graça no menino e deixavam que ele espiasse enquanto elas transavam com os clientes regulares e tocasse inúmeras punhetas
Criativo, Tadeu vivia escrevendo redações povoadas de mulheres nuas montadas em cavalos puro-sangue que acabavam conquistadas por um valente cavaleiro, cuja descrição era a dele mesmo. Os textos divertiam padre Estevão, sempre atento aos devaneios do menino, que, apesar do sono pelas noites mal dormidas, ainda assim conseguia tirar boas notas e se manter acima da média dos demais alunos. Por isso acabou convencendo o diretor do seminário a propor uma bolsa de estudo para o brilhante aluno na PUC de São Paulo.
Com grande facilidade em assimilar novos ensinamentos, Tadeu logo se tornou uma figura relativamente popular na faculdade. Muitos alunos pediam ajuda nesta ou naquela matéria e ele prontamente os auxiliava. Elisa, uma bonita ruiva baixinha e gordinha, era uma das mais assíduas companheiras de estudo de Tadeu na biblioteca, além de sempre dar um jeito de ficar próxima dele na sala de aula ou nos intervalos, quando iam à lanchonete, onde ela usualmente pagava a conta, pois Tadeu vivia duro com os parcos recursos que conseguia fazendo trabalhos escolares para os colegas.
A amizade entre os dois foi aos poucos mudando de estágio, até que rolou o primeiro beijo num canto escondido do campus. Depois disso, sempre davam um jeito de trocar carícias discretas ou abusadas em lugares mais ou menos ermos. A situação dos dois era complicada, porque ele morava em uma pensão sem qualquer possibilidade de privacidade e ela em uma república, com mais três amigas que não admitiam a presença de namorados no espaço de convívio entre elas. Com o dinheiro curto que ambos tinham para passar o mês, a possibilidade de um motel era praticamente a mesma de ganhar na megassena sozinho.
Mas a sorte finalmente lhes sorriu. Pouco antes de um longo feriado ficaram sabendo que as três companheiras de república de Elisa iriam viajar para aproveitar os dias de folga. Os dois, dispostos a surpreender, fizeram com o pouco dinheiro economizado a duras penas algumas extravagâncias. Ela foi até a Liberdade e comprou sushis e sachimis, além de saquê e um bom vinho tinto. Ele, mais humilde, comprou um Martine doce e um vidro de cerejas em conserva, pois sempre gostara da mistura e quase nunca tinha oportunidade de desfrutá-la.
No dia em que as meninas viajaram, Tadeu se mudou para o apartamento de Elisa e, pouco afeito às artes e sutilezas da conquista e para superar uma timidez quase intransponível, quando ficou sozinho com Elisa, desandou a beber e comer feito um desvairado. Logo ficou bêbado e desinibido. Durante as preliminares, Elisa, também já meio alta, gritou para Tadeu: “me bate, me xinga!” Tadeu titubeou, pois ninguém passa tanto tempo sendo criado dentro da mais rígida disciplina cristã impunemente. Ele não tinha o hábito de falar palavrões nem muito menos experiências anteriores em sexo selvagem, mas, decidido em atender aos desejos da amante, não teve dúvidas e num arroubo de ousadia, pespegou-lhe um tapinha na bunda e gritou “sua,,, sua,,, SUA GORDA”.
Até hoje Tadeu não entende porque o fim de semana terminou de forma tão abrupta e Elisa nunca mais lhe olhou na cara ou lhe dirigiu a palavra.
quinta-feira, 8 de março de 2012
A Mineira do Pub de Moema
Marta Lêmures era uma mineira sonhadora que, paradoxalmente, tinha dificuldade de dormir. Acordava sempre com raiva do despertador e não conseguia desgrudar os olhos até comer um “queijim” branco com leite gelado.
Resgatada diariamente pelo motorista Altamir, ficava um pouco irritada com o excesso de gentileza do moço e das perguntas indiscretas que ele fazia. “A senhora saiu de novo ontem?” “Conheceu o amor da sua vida?” “A senhora prefere caldo de cana ou um cana que dá um caldo?”. Ela levantava a sobrancelha em sinal de descontentamento e virava o rosto não dando a menor trela para o rapaz.
Chegava ao trabalho a mil por hora. Sentava e fazia três ou quatro ligações. Se era relativa ao trabalho, zangava, bufava e, de vez em quando, levantava o dedo do meio no final da conversa. Se o bate-papo era com uma das suas companheiras de balada, dava uma risadinha longa, dizia “cala a boca” e terminava sempre com um “vamos hoje de novo?”
Seu ofício envolvia a fabricação de pães artesanais. Fazia diversos tipos, com sabores variados. Era uma jovem Ana Maria Braga que despontava na sociedade paulista e sonhava um dia encontrar seu Louro José.
Todo noite Marta Lêmures ia ao Girapha Pub, um canto de Moema frequentado pelos seus amigos, além de algumas drag queens e uns idosos que saíam do Bar Charles Edward e iam com os rostos vermelhos direto para a balada atrás das jovenzinhas.
Certa vez, Marta Lêmures deu de ombros para o dia do uísque e resolveu pedir a cachaça Boazinha com Red Bull. Dançava ao som de sua banda predileta, os Cornobells. Após algumas doses, ao invés de asas, sentiu um senhor nas suas costas. O homem balbuciava palavras desconexas e babava. Grudou de forma grosseira na pobre mineira.
Sem conseguir se desvencilhar do homem – afinal a bebida já fizera um efeito maior que o desejado, Marta Lêmures começou a achar que era seu fim.
De repente, como um raio, surgiu uma mão fechada em direção ao rosto do velho tarado, que caiu com tudo no chão e começou a chorar. Com a visão turva, Marta conseguiu enxergar a figura do seu salvador: o motorista Altamir.
Ao levantar, Marta Lêmures entendeu que estava diante de seu destino. Beijou longamente Altamir e o pediu em casamento.
Resgatada diariamente pelo motorista Altamir, ficava um pouco irritada com o excesso de gentileza do moço e das perguntas indiscretas que ele fazia. “A senhora saiu de novo ontem?” “Conheceu o amor da sua vida?” “A senhora prefere caldo de cana ou um cana que dá um caldo?”. Ela levantava a sobrancelha em sinal de descontentamento e virava o rosto não dando a menor trela para o rapaz.
Chegava ao trabalho a mil por hora. Sentava e fazia três ou quatro ligações. Se era relativa ao trabalho, zangava, bufava e, de vez em quando, levantava o dedo do meio no final da conversa. Se o bate-papo era com uma das suas companheiras de balada, dava uma risadinha longa, dizia “cala a boca” e terminava sempre com um “vamos hoje de novo?”
Seu ofício envolvia a fabricação de pães artesanais. Fazia diversos tipos, com sabores variados. Era uma jovem Ana Maria Braga que despontava na sociedade paulista e sonhava um dia encontrar seu Louro José.
Todo noite Marta Lêmures ia ao Girapha Pub, um canto de Moema frequentado pelos seus amigos, além de algumas drag queens e uns idosos que saíam do Bar Charles Edward e iam com os rostos vermelhos direto para a balada atrás das jovenzinhas.
Certa vez, Marta Lêmures deu de ombros para o dia do uísque e resolveu pedir a cachaça Boazinha com Red Bull. Dançava ao som de sua banda predileta, os Cornobells. Após algumas doses, ao invés de asas, sentiu um senhor nas suas costas. O homem balbuciava palavras desconexas e babava. Grudou de forma grosseira na pobre mineira.
Sem conseguir se desvencilhar do homem – afinal a bebida já fizera um efeito maior que o desejado, Marta Lêmures começou a achar que era seu fim.
De repente, como um raio, surgiu uma mão fechada em direção ao rosto do velho tarado, que caiu com tudo no chão e começou a chorar. Com a visão turva, Marta conseguiu enxergar a figura do seu salvador: o motorista Altamir.
Ao levantar, Marta Lêmures entendeu que estava diante de seu destino. Beijou longamente Altamir e o pediu em casamento.
Passados alguns meses, durante a cerimônia regada a deliciosos pães artesanais, com um vestido feito na Faculdade de Moda que havia acabado de abrir, Marta Lêmures sentiu de repente uma enorme saudade do Girapha Pub.
Fez um olhar de adeus a Altamir e saiu correndo em direção ao lugar que havia conquistado seu coração como nenhum outro homem jamais fizera. Altamir saiu ébrio dirigindo pelas ruas de São Paulo até ser detido na blitz da lei seca mais próxima.
Fez um olhar de adeus a Altamir e saiu correndo em direção ao lugar que havia conquistado seu coração como nenhum outro homem jamais fizera. Altamir saiu ébrio dirigindo pelas ruas de São Paulo até ser detido na blitz da lei seca mais próxima.
No dia seguinte, Marta Lêmures levantou novamente com os olhos grudados e pensou que ainda era cedo para combinar com suas amigas a próxima balada noturna.
quinta-feira, 1 de março de 2012
O Príncipe do ABC
Eddie Lázaro Ramos Murphy era o típico xavequeiro. Aquele que não pode ver um sexo oposto que já se aproxima com seu olhar 43 e seu sorriso Colgate para soltar sempre um xaveco infalível.
–“Pronto! Já estou aqui! Quais são seus outros 2 desejos?”
– “Além de ser linda, simpática, perfumada, gente boa e gostosa o que mais você faz?”
Moreno, atlético, autoconfiante nos auge dos seus 20 anos, morador do ABC Paulista, Eddie não perde oportunidade para declamar seus xavecos, que na mente dele saem como poesias.
– “Um dia quero virar astronauta” “Pra poder viajar no céu da tua boca.”
Mas, Eddie nem sempre foi assim. Sua vida de Reginaldo Rossi sedutor começou quando ele conseguiu um estágio numa secretaria pública da cidade de Ribeirão Pires.
Eddie, até então, um cara tímido e reservado, se apaixonou por uma funcionária do R.H, muito bonita por sinal. Logo foi correspondido e começaram a sair. Meses se passaram e o garoto estava cada vez mais apaixonado pela Carminha. Para ele, seria a mulher que passaria o resto de sua vida.
A garota viajou a trabalho e, sozinho, Murphy convidou um amigo da repartição para um happy hour. Horas se passaram e, no meio da bebedeira, o amigo olha para Eddie Lázaro Ramos Murphy e diz: “sabe quem eu estou comendo?”. “A Carminha do RH”. Foi quando Eddie se engasgou com a cerveja, levantou com lágrimas nos olhos e saiu. Nunca mais voltou ao trabalho.
Enfurecido, Eddie prometeu nunca mais se apaixonar. E foi assim que surgiu o “Príncipe do ABC“, uma espécie barata do Akeem, príncipe herdeiro de Zumunda (África), que fez a vida em Nova York.
Munido de xavecos testados em frente ao espelho, ele saia e disparava para a mulher que encontrava:
– “Será que eu posso saber o que esse bombom tá fazendo fora da caixa?”
– “Não sou o Itaú, mas fui feito para você”
Recém-contratado como estagiário de uma grande empresa, Eddie em 3 meses de trabalho já havia xavecado todas as garotas da repartição, com 100% de rejeição. Foi quando definiu que seu novo target seria mulheres acima dos 35 anos, com carro. E foi à luta:
– “Se Preto fosse paixão e branco fosse carinho, o que eu sinto por você seria xadrezinho.”
Meses se passaram e ele continuava na seca. Mas, nunca perdia a pose, o jeito galã, o jeito José Mayer de ser.
Fã do grupo Exaltasamba, chorou quando Thiaguinho e Péricles anunciaram a separação. Quando viu um amigo tirar sarro do grupo, promoveu um verdadeiro ataque virtual no Facebook do colega, incitando os fãs de pagode a promoverem um verdadeiro bullying virtual na página pessoal desse amigo.
E foi quando ouvia “Bole Bole”, que o cúpido mais uma vez flechou seu coração e “O príncipe do ABC” se apaixonou pela secretária da esposa do dono da empresa, quem ele carinhosamente chamava de “A Primeira”.
A paixão foi avassaladora. Com ajuda de amigos da repartição, descobriu o ponto fraco da menina, o bigode. Ela adorava caras de bigode. Eddie, então, deixou o bigode crescer e conseguiu sair com Maressa, “A Primeira”.
Entusiasmado, o príncipe cometeu uma falha no encontro. Errou ao contar uma passagem da sua vida e deixou a menina encucada, com dúvidas sobre a virilidade do rapaz.
Inocente, Eddie Lázaro Ramos Murphy contou como entrou na empresa. Ele relatou a entrevista de emprego que teve com o Jorjão, do R.H.
Jorjão: “Você gosta de ler livros”
Eddie: “Gosto sim. Meu último livro foi O Alquimista, de Paulo Coelho”.
Jorjão: “Você tem irmã?” “Se tiver, ela deve ser muito bonita” “Porque você é lindo”
Eddie: “Como é?”
Jorjão: “É verdade. Não sou gay, mas preciso dizer. Você é o cara mais lindo que já vi”.
Maressa estranhou muito aquele comentário suspeito de Eddie Murph. E logo depois decidiu interromper o encontro. E nunca mais se viram.
Ele não se abateu e, no auge de sua testosterona, chegou à conclusão que o importante era empurrar a bola pra rede, independentemente do adversário.
Na última semana nosso galã foi visto entrando no apartamento de Jorjão do RH.
Após pernoite animada, Eddy Murph saiu feliz da vida e cantando alto trecho da música do Exalta Samba:
“Quero seu amor
Com jeito de felicidade
Com gosto de sinceridade
Vontade de te namorar”
Não perca na próxima semana, em homenagem ao Dia Internacional das Mulheres, a comovente história da “Mineira do Pub de Moema”.
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