quinta-feira, 22 de março de 2012

O Seminarista de São Roque


Tadeu estava cursando o segundo semestre de pedagogia na PUC de São Paulo. Não era bem a profissão que ele almejava, mas após deixar o seminário em São Roque, onde cursara o ensino médio, estava meio perdido com relação a que carreira seguir e optara pelo curso de pedagogia em admiração ao padre Estevão, professor de português e literatura no seminário do Marmeleiro.

Foi por intervenção direta de padre Estevão que Tadeu conseguira a vaga na faculdade, com bolsa de estudo integral, pois não tinha como arcar com os custos, já que sua mãe se negara resolutamente a ajudá-lo na nova empreitada.

Tadeu, na verdade, nunca tivera vocação para padre e foi parar no seminário graças a uma promessa feita pela mãe quando ele, ainda em tenra idade, pegou uma doença grave e desconhecida que o deixou por vários dias à beira da morte.

A mãe, desesperada e sem saber mais o que fazer, prometeu que se o menino sobrevivesse seria padre e serviria a Deus por toda a sua vida. Mas o moleque nunca tivera vocação nem o mínimo interesse em cumprir os sacrifícios exigidos pela vida sacerdotal. Na escola primária vivia atazanando as meninas e levantando suas saias, em casa foi surpreendido várias vezes espiando a empregada, uma bonita mulata, tomando banho ou a se enxugar.


Dona Vicentina, a mãe de Tadeu, colocou-o no seminário assim que ele atingiu a idade adequada e achou que a partir daquele momento tomaria jeito, mas o moleque tinha alma aventureira e vivia fugindo da reclusão do seminário para ir ao puteiro de Dona Piera, ali perto. As putas achavam graça no menino e deixavam que ele espiasse enquanto elas transavam com os clientes regulares e tocasse inúmeras punhetas


Criativo, Tadeu vivia escrevendo redações povoadas de mulheres nuas montadas em cavalos puro-sangue que acabavam conquistadas por um valente cavaleiro, cuja descrição era a dele mesmo. Os textos divertiam padre Estevão, sempre  atento aos devaneios do menino, que, apesar do sono pelas noites mal dormidas, ainda assim conseguia tirar boas notas e se manter acima da média dos demais alunos. Por isso acabou convencendo o diretor do seminário a propor  uma bolsa de estudo para o brilhante aluno na PUC de São Paulo.

Com grande facilidade em assimilar novos ensinamentos, Tadeu logo se tornou uma figura relativamente popular na faculdade. Muitos alunos pediam ajuda nesta ou naquela matéria e ele prontamente os auxiliava. Elisa, uma bonita ruiva baixinha e gordinha, era uma das mais assíduas companheiras de estudo de Tadeu na biblioteca, além de sempre dar um jeito de ficar próxima dele na sala de aula ou nos intervalos, quando iam à lanchonete, onde ela usualmente pagava a conta, pois Tadeu vivia duro com os parcos recursos que conseguia fazendo trabalhos escolares para os colegas.

A amizade entre os dois foi aos poucos mudando de estágio, até que rolou o primeiro beijo num canto escondido do campus. Depois disso, sempre davam um jeito de trocar carícias discretas ou abusadas em lugares mais ou menos ermos. A situação dos dois era complicada, porque ele morava em uma pensão sem qualquer possibilidade de privacidade e ela em uma república, com mais três amigas que não admitiam a presença de namorados no espaço de convívio entre elas. Com o dinheiro curto que ambos tinham para passar o mês, a possibilidade de um motel era praticamente a mesma de ganhar na megassena sozinho.

Mas a sorte finalmente lhes sorriu. Pouco antes de um longo feriado ficaram sabendo que as três companheiras de república de Elisa iriam viajar para aproveitar os dias de folga. Os dois, dispostos a surpreender, fizeram com o pouco dinheiro economizado a duras penas algumas extravagâncias. Ela foi até a Liberdade e comprou sushis e sachimis, além de saquê e um bom vinho tinto. Ele, mais humilde, comprou um Martine doce e um vidro de cerejas em conserva, pois sempre gostara da mistura e quase nunca tinha oportunidade de desfrutá-la.

No dia em que as meninas viajaram, Tadeu se mudou para o apartamento de Elisa e, pouco afeito às artes e sutilezas da conquista e para superar uma timidez quase intransponível, quando ficou sozinho com Elisa, desandou a beber e comer feito um desvairado. Logo ficou bêbado e desinibido. Durante as preliminares, Elisa, também já meio alta, gritou para Tadeu: “me bate, me xinga!” Tadeu titubeou, pois ninguém passa tanto tempo sendo criado dentro da mais rígida disciplina cristã impunemente. Ele não tinha o hábito de falar palavrões nem muito menos experiências anteriores em sexo selvagem, mas, decidido em atender aos desejos da amante, não teve dúvidas e num arroubo de ousadia, pespegou-lhe um tapinha na bunda e gritou “sua,,, sua,,, SUA GORDA”.

Até hoje Tadeu não entende porque o fim de semana terminou de forma tão abrupta e Elisa nunca mais lhe olhou na cara ou lhe dirigiu a palavra.

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