quinta-feira, 8 de março de 2012

A Mineira do Pub de Moema

Marta Lêmures era uma mineira sonhadora que, paradoxalmente, tinha dificuldade de dormir. Acordava sempre com raiva do despertador e não conseguia desgrudar os olhos até comer um “queijim” branco com leite gelado.

Resgatada diariamente pelo motorista Altamir, ficava um pouco irritada com o excesso de gentileza do moço e das perguntas indiscretas que ele fazia. “A senhora saiu de novo ontem?” “Conheceu o amor da sua vida?” “A senhora prefere caldo de cana ou um cana que dá um caldo?”. Ela levantava a sobrancelha em sinal de descontentamento e virava o rosto não dando a menor trela para o rapaz.

Chegava ao trabalho a mil por hora. Sentava e fazia três ou quatro ligações. Se era relativa ao trabalho, zangava, bufava e, de vez em quando, levantava o dedo do meio no final da conversa. Se o bate-papo era com uma das suas companheiras de balada, dava uma risadinha longa, dizia “cala a boca” e terminava sempre com um “vamos hoje de novo?”

Seu ofício envolvia a fabricação de pães artesanais. Fazia diversos tipos, com sabores variados. Era uma jovem Ana Maria Braga que despontava na sociedade paulista e sonhava um dia encontrar seu Louro José.

Todo noite Marta Lêmures ia ao Girapha Pub, um canto de Moema frequentado pelos seus amigos, além de algumas drag queens e uns idosos que saíam do Bar Charles Edward e iam com os rostos vermelhos direto para a balada atrás das jovenzinhas.      

Certa vez, Marta Lêmures deu de ombros para o dia do uísque e resolveu pedir a cachaça Boazinha com Red Bull. Dançava ao som de sua banda predileta, os Cornobells. Após algumas doses, ao invés de asas, sentiu um senhor nas suas costas. O homem balbuciava palavras desconexas e babava. Grudou de forma grosseira na pobre mineira.

Sem conseguir se desvencilhar do homem – afinal a bebida já fizera um efeito maior que o desejado, Marta Lêmures começou a achar que era seu fim.

De repente, como um raio, surgiu uma mão fechada em direção ao rosto do velho tarado, que caiu com tudo no chão e começou a chorar. Com a visão turva, Marta conseguiu enxergar a figura do seu salvador: o motorista Altamir.

Ao levantar, Marta Lêmures entendeu que estava diante de seu destino. Beijou longamente Altamir e o pediu em casamento.
 
Passados alguns meses, durante a cerimônia regada a deliciosos pães artesanais, com um vestido feito na Faculdade de Moda que havia acabado de abrir, Marta Lêmures sentiu de repente uma enorme saudade do Girapha Pub.
 
Fez um olhar de adeus a Altamir e saiu correndo em direção ao lugar que havia conquistado seu coração como nenhum outro homem jamais fizera. Altamir saiu ébrio dirigindo pelas ruas de São Paulo até ser detido na blitz da lei seca mais próxima. 

No dia seguinte, Marta Lêmures levantou novamente com os olhos grudados e pensou que ainda era cedo para combinar com suas amigas a próxima balada noturna. 

3 comentários:

  1. Coitado do Altamir e do senhor judiado no Girapha Pub.

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  2. TV DA PADARIA DO SEGUNDO ANDAR9 de março de 2012 às 18:42

    Marta Lêmures vive volteada de belos rapazes em almoços gargalhatíferos, despertando muita invejinha das moçoilas que a cercam!

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