sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O ALCOÓLATRA DA SANTA CECÍLIA

O coração de Afonso era enorme. Vindo de uma família do interior de São Paulo, logo se destacou na sociedade paulistana. Com seu jeito amigável e até um pouco sem-noção, ele conquistava as pessoas com carinho e muitas vezes por tudo que podia falar e fazer sem pensar nas conseqüências. Original é um adjetivo pequeno para ele.
Após uma grande decepção amorosa, na qual se entregou de corpo e alma a Cinira sem ter sido correspondido, Afonso decidiu que moraria sozinho e curtiria a vida sem freios. Alugou um apartamento no bairro de Santa Cecília, no centro de São Paulo.
Afonso Hildemar desde adolescente foi um rapaz trabalhador e chegou a dar aulas de inglês no interior. Tinha facilidade para escrever e fazer amizades. Contudo, seu único e grande problema sempre foi o álcool. Desde criança pegou um gosto íntimo pela bebida e, conforme foram passando os anos, o consumo aumentou drasticamente.
Entre cenas bizarras, maluquices e acidentes causados pelo excesso da bebida, Afonso sempre se manteve firme na área profissional. Apesar disso, nos últimos tempos ele se sentia muito carente e tinha a impressão de que vivia para trabalhar.
Foi quando, em um desses dias, ao chegar em casa exausto e com raiva do trabalho começou a vasculhar sites de relacionamentos em busca de transsexuais, rapazes e aventuras sigilosas.
No canto direito da tela do site Sexy for Singles, Afonso se deparou com o link Just Boys. Ao clicar e ver os vídeos eróticos de garotões sarados, ele teve uma estranha sensação. Pegou uma dose de conhaque e por ali ficou nas duas horas seguintes olhando atentamente os detalhes vertiginosos de quem acabara de descobrir um caminho livre e antes nunca explorado.
Dali em diante foi assim. Virou uma rotina londrina. Ao chegar em casa, abria uma garrafa de Campari e corria para o computador para encontrar seus fiéis amigos. E ali ficava até se desestressar. Afonso tinha a sensação de que o ator que interpretava Rony, no filme “Big Carrot,” já conhecia há anos.
Para Afonso, os vídeos eróticos de rapazes que assistia, à noite, quando chegava em casa, valiam muito mais do que qualquer calmante natural ou até mesmo remédios tarja-preta.
Dizem os vizinhos e os colegas de trabalho que nos últimos tempos Afonso está muito mais calmo e de bem com a vida. E leva para onde vai um sorriso enorme no rosto.
O Alcoólatra da Santa Cecília é o terceiro conto da série “Os Paulistas”.
Não percam na próxima sexta “O Inocente da Pompéia”.

 

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